Arte: Mujer lloranjo - Fernando Botero
Já
ouvi esta pergunta dentro e fora de mim,
"Andamos pelo mundo, ou o mundo anda em
nós"?
Os dias passam como uma massa cinzenta.
Todos os dias são o mesmo dia...
O amanhã virou o agora e o tempo
Cumpre o seu papel sem ser dividido.
Sinto que perdi a noção dele...
Dia desses precisei ir à rua e veio a vontade de
chorar...
Como coisas tão simples se tornaram tão importantes?!...
Ver e sentir o sol, por exemplo... Olhar as Nuvens,
As árvores na rua... conversar, trocar ideias...
Fico pensando em vocês que precisam trabalhar
E não podem se resguardar... e
Tento me consolar observando que
Tem o lado ruim porque ficam expostos...
Mas, ao menos estão livres, vendo pessoas,
Sentindo o vento nos rostos, vendo e sentindo o sol,
As flores dos caminhos por onde passam,
Respirando o ar puro (ok, não tão puro)...
Neste momento de "parada obrigatória"
Quando estou em solitude ou sozinha,
Obrigo-me a entrar mais em contato comigo
E rever minha história, meus percursos...
Escolhas que precisei fazer, abrindo mão de umas
Para alcançar outras. Ou que por medo, deixei
escapar.
Coisas que alcancei com certa satisfação
Vazia por ter tido que escolher.
E às vezes penso que tudo tem um processo
E caminha como tem que caminhar...
Como Tem que ser...
Sou tomada de um pesar que beira à
Culpa e me pergunto que se tivesse feito de outra
forma...
Mas, entendo que nunca vou saber porque
A resposta fica por conta do Imponderável...
O impalpável...
E sinto que desta forma posso me machucar mais
Neste contexto de crises externas e internas.
E busco dentro de mim uma maturidade
Lógica que possa ultrapassar meus
Sentimentos e emoções em desalinho pandêmico...
Mas, o movimento lógico do pensamento prático é minimalista
Perto do que sinto neste momento da história do
mundo...
Porque o que sinto é muito forte e engasga
Como algo preso na garganta que não quer descer...
Peço, "Dá um tempo, pode ser ansiedade?”
Luto contra as lágrimas que por vezes querem
descer.
Parece que elas sabem, mais que eu, da
impossibilidade
Que evidencia a situação... do imediatismo, da
urgência,
Da mudança mágica que pode aliviar
A dor que não é só minha.
E parece que elas sabem o que é preciso fazer...
Porém, meu sentimento e emoções
Se negam a aceitar e vai ficando cada
Dia mais difícil o peso que para ele e elas
Deveria ser tênue, leve e complacente...
A aceitação, o acolhimento da realidade,
Uma vez que ela, não vai se transformar no agora.
É Preciso entender que haverá dor antes que
melhore...
"A vida é tão rara", como diz a música...
tão rara e tão linda...
É "água viva", como disse Clarice. Poderia dizer que não deveria
Doer tanto...
Ainda mais para a maioria, vítima da injustiça social.
Frutos que da árvore ficaram na parte da sombra.
Mas a dor também é vida, embora seja
Quase injusto dizê-lo neste momento e lugar onde falar que
A "Dor que dói!" não é pleonasmo, de tanta dor.
Meire Regina
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