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sábado, 24 de fevereiro de 2024

MILAGRES SÃO UMA LOUCURA


                                             Imagem do Filme: "Beleza Americana"


- Milagres são uma loucura, né? Uma grande loucura! 

É preciso saber lê-los, para'lém da leitura, para'lém das crenças institucionalizadas...

Uma pequena asa dobrada, tentando sair do casulo para voar, ainda úmida... O vento debaixo dessa asa que impulsiona o voo...

A pedra lançada por pequenas mãos, fazendo ondas na água fria... a força que explica a onda...

A probabilidade do encontro, quase impossível de algo há anos perdido. Coisa de 1 em 6 bilhões...

Coisas pequenas, bem pequenas, minimalistas ao olhar...a música que desperta emoção recalcada... entre o compasso e o choro, o que é bonito, libertando o preso de grades invisíveis, indizíveis.

O encontro da poesia em campo improvável da opressão. Este espaço entre a dureza vivida e o poema sentido, posto em palavras fluidas e ao mesmo tempo tão concretas, que atingem algum alvo desavisado, que precisava delas para simplesmente sentir e chorar e rir em meio ao caos e essa força diluída entre o choro e o riso, que faz mudar o rumo seguido...

De verdade, onde ele está?


Meire Regina

um dia em fevereiro de 2024


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Meu mundo (re) Existe


Arte: Lágrimas de Freya - Gustav Klimt

O mundo existe a partir de mim...
A parte de mim
Hipoteticamente sonda se ele é
À parte de mim.
A parte que me cabe dentro
Ou a parte que me tem fora 
A partir da Vontade de me expelir
A partir de agora, talvez outrora
Quando a parte de mim que incomoda comece
A partir  a partitura que me impõem.
Partindo do pressuposto que isso é real,
A partida se torna necessária.
Parto de mim
A parte do mundo
Parto do mundo
A partir de mim, parto.
Parto do mundo em mim...

Meire Regina


Anjos no Ato


                                            Arte: Anjo Decaído - Salvador Dalí


Somos Anjos e Anjas decaídos no intuito do prumo...


De armas nas mãos, às vezes, ou quase sempre 


Perdidos em meio a tantas edificações...com o sangue 


Vencido apodrecendo nossos sonhos, 


Mas contínuas são nossas batalhas contra 


Os autênticos demônios escarlates que marcham, 


Pisando cabeças e se alimentando da miséria e do 


Suor dos pequenos, fazendo da injustiça a morada de 


Suas seivas carnicentas o ópio que obriga o "zumbizar" humano 


Através de artifícios alucinantes e sedutores que hipnotiza e come 


O cérebro em pequenas porções. 


E ainda assim nossas utopias calejadas são incansáveis


 E nosso grito imbuídos no nosso ato
 
Do sempre...e a poesia é um dos braços que segura 

O dilaceramento em lança direcionada certeiramente 


No peito que a espera...



Meire Regina


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

As Entranhas de Ica

                                                                                      Arte: paisagem Especulada - Silvana Macêdo

Nasci com tendências de passarinha
De parto normal,
Só que pelas pernas, fórceps! 
Por isso a vontade da partida...
Nada de nascer pela cabeça!
E com as pernas já aberta e pés prontos
Para os passos...
Como não havia tempo para a cesariana,
Deu de me arrepender e querer ficar
No ventre de minha mãe,
Daí que abri os braços.
Fiquei presa na entrada da vagina...
Por isso os meus braços têm formato de
Asas de passarinho... verdade!
Curvos para baixo... e acho que é por isso que
Gosto do gozo do voo, sempre.
E dançar com o vento...
Como a cabeça saiu por último
Bebi do sangue de
Ica
E sinto o gosto até hoje.
A isso chamo vida...
Esse sabor agridoce
Que dói e aprazera
O pulmão desde que respirei pela primeira vez...
Escutei o estalar dos ossos a entortar e 
Entoar alguma coisa.
Por isso sou meio torta na vida.
E penso que é por isso
Que gosto de pequenos sons,
Como o quebrar de cascas secas
Quando piso sobre elas no asfalto...
Os sons variados da chuva,
Do vento nas copas...
Ou fazer música com o que ouço...
E sentir a tessitura de tudo o
Que toco.
Os cheiros que guardam memórias...
É para lembrar o momento exato da partida
Da primeira morada...
As entranhas de Ica.
Ela foi, mas ficou em mim..
Elas nela, ela em mim.

Meire Regina














segunda-feira, 20 de julho de 2020

Quase Desencanto, Manuel...




                                             Obra: La Creación de La Aves (1957) - Remedios Varo

Eu faço versos como quem ri
De desespero... com certa agonia
Abra o meu livro. Também diz de ti
Não tens motivo para ser ironia.

Meu verso é vermelho. Água quente...
Alegria? Disfarça... retrata a situação...
Quase não dói na pele um tanto ardente
Só desmorona fortemente, como em furacão.

E nestes versos de alegria pouca
Os olhos almejam algo que os reflita
Corro-os na rua imaginando-me louca

- Eu escrevo versos como quem grita

Meire Regina

sábado, 16 de maio de 2020

Quarentenar Processos: tratado sobre a dor

Arte: Mujer lloranjo - Fernando Botero

Já ouvi esta pergunta dentro e fora de mim,
"Andamos pelo mundo, ou o mundo anda em nós"?
Os dias passam como uma massa cinzenta.
Todos os dias são o mesmo dia...
O amanhã virou o agora e o tempo
Cumpre o seu papel sem ser dividido.
Sinto que perdi a noção dele...
Dia desses precisei ir à rua e veio a vontade de chorar...
Como coisas tão simples se tornaram tão importantes?!... 
Ver e sentir o sol, por exemplo... Olhar as Nuvens,
As árvores na rua... conversar, trocar ideias...
Fico pensando em vocês que precisam trabalhar
E não podem se resguardar... e
Tento me consolar observando que
Tem o lado ruim porque ficam expostos... 
Mas, ao menos estão livres, vendo pessoas,
Sentindo o vento nos rostos, vendo e sentindo o sol,
As flores dos caminhos por onde passam,
Respirando o ar puro (ok, não tão puro)...
Neste momento de "parada obrigatória"
Quando estou em solitude ou sozinha,
Obrigo-me a entrar mais em contato comigo
E rever  minha história, meus percursos...
Escolhas que precisei fazer, abrindo mão de umas
Para alcançar outras. Ou que por medo, deixei escapar. 
Coisas que alcancei com certa satisfação
Vazia por ter tido que escolher.
E às vezes penso que tudo tem um processo
E caminha como tem que caminhar...
Como Tem que ser...
Sou tomada de um pesar que beira à
Culpa e me pergunto que se tivesse feito de outra forma...
Mas, entendo que nunca vou saber porque
A resposta fica por conta do Imponderável... 
O impalpável...
E sinto que desta forma posso me machucar mais 
Neste contexto de crises externas e internas. 
E busco dentro de mim uma maturidade
Lógica que possa ultrapassar meus
Sentimentos e emoções em desalinho pandêmico...
Mas, o movimento lógico do pensamento prático é minimalista
Perto do que sinto neste momento da história do mundo...
Porque o que sinto é muito forte e engasga
Como algo preso na garganta que não quer descer...
Peço, "Dá um tempo, pode ser ansiedade?”
Luto contra as lágrimas que por vezes querem descer.
Parece que elas sabem, mais que eu, da impossibilidade
Que evidencia a situação... do imediatismo, da urgência,
Da mudança mágica que pode aliviar
A dor que não é só minha.
E parece que elas sabem o que é preciso fazer...
Porém, meu sentimento e emoções
Se negam a aceitar e vai ficando cada
Dia mais difícil o peso que para  ele e elas
Deveria ser tênue, leve e complacente...
A aceitação, o acolhimento da realidade,
Uma vez que ela, não vai se transformar no agora.
É Preciso entender que haverá dor antes que melhore...
"A vida é tão rara", como diz a música... tão rara e tão linda...
É "água viva", como disse Clarice.  Poderia dizer que não deveria
Doer tanto...
Ainda mais para a maioria, vítima da injustiça social.
Frutos que da árvore ficaram na parte da sombra.
Mas a dor também é vida, embora seja
Quase injusto dizê-lo neste momento e lugar onde falar que
A "Dor que dói!" não é pleonasmo, de tanta dor.

Meire Regina

sábado, 2 de maio de 2020

Considerações Sobre a Cidade Morta

                                                                      Obra- Hsin-Yao Tseng

Em baixo das cidades mortas há sonhos
Contados e elucidados.
Em baixo, bem embaixo nas cidades 
Mortas há a cidade que cada um é.
Um ponto eu de vírgulas em ilhas 
De reticências...
Pontilhadas de hifens na tentativa
De pontes imaginárias...
Durante o isolamento.

Sob a cidade morta um filete de 
Pensamentos que por hora movimenta
Poucas palavras e se amplia,
Momentaneamente,
Descompassadamente diante do
Porvir...

É o peso das cidades mortas.
Um sonho,
Um ressuscitar para o infinito...
Um querer dar conta da vida.
Querer levá-la como carga leve,
Mesmo quando não é.
E sob o peso das cidades mortas,
A cidade se interpela para a expansão
Forçada de si. 
Quer existir e...


Meire Regina
                                 

Num dia da quarentena de 2020